13 maio 2005

Figo, Scolari, Federação, tachos, a merda do costume

Como é público e sabido, depois do Euro 2004, alguns jogadores da selecção decidiram por ponto final à sua carreira internacional. Não é uma situação muito comum em Portugal, sendo que dos jogadores regularmente eleitos pelos seleccionadores (e antes do Euro 2004) apenas Jorge Costa tomou esta opção. Não me vou pronunciar sobre decisões bombásticas como a retirada de Pedro Barbosa ou ainda mais surpreendente, de Fernando Mendes (sim, o trinca-bombeiros da Amadora) da turma das quinas, pois há quem ainda, passados estes anos todos, não tenha recuperado do choque.
Voltando atrás, Rui Costa e Figo decidiram pôr fim às suas carreiras internacionais no final do Euro 2004. Com uma diferença entre os 2. Enquanto que Figo fez do abandono uma novela, arrastando o anúncio da decisão desde Janeiro até Julho de 2004, sendo que todos já sabiam o que ia acontecer, Rui Costa encarou o abandono com uma normalidade de quem sabe que já fez muito pela selecção (embora muitas vezes criticado) e chegou a hora ideal para a abandonar, ainda na mó de cima e concentrar-se nos jogos do clube. Nada de mais normal aqui. De notar que quando um jogador faz este tipo de anúncios são decisões pensadas e amadurecidas e que nunca, ou quase nunca, são alteráveis. Lembro-me do caso apenas de Henrik Larsson, regressado à selecção sueca para fazer um belo europeu, com 32 anos, após mais uma magnífica época no Celtic, que lhe valeu um contrato para o Barcelona.
Hoje aparece a notícia que já todos esperavam que acontecesse. Após alguns convites de Scolari a Figo, eis que este aceita regressar à selecção para os próximos 2 jogos em Junho. Mas alguém duvidava que Figo iria voltar? Mais uma novelinha sem interesse algum... Mas a questão fulcral aqui não é esta. É o porquê do regresso de Figo à selecção. Se Figo se queria concentrar no clube e por isso abandonou a selecção, porque razão quer agora concentrar-se na selecção? Talvez por já estar a mais no Real Madrid, talvez por ter perdido justificadamente (dizem os resultados e as exibições) a sua titularidade no clube espanhol, talvez por já saber que vai acabar a carreira a partir já da próxima época para o Japão ou para o Qatar?
Por outro lado, a selecção está no bom caminho para o apuramento para o Mundial 2006. A equipa base da selecção, mais coisa menos coisa, está formada. Sem Figo. E com resultados. Agora, Figo regressa à selecção. E tem que jogar. Bem, mal, com uma perna partida ou com os olhos vendados. Como irão reagir os jogadores que fizeram mais de metade do apuramento para o Mundial ao saberem que agora os lugares em disputa não são 11 mas 10? Com Figo cada vez a jogar pior de época para época, e a "ter" que jogar obrigatoriamente, iremos assistir a uma selecção em que 10 jogadores estão lá por mérito e 1 por convite. E Figo não se irá ficar pela fase de apuramento na certa. Disputará os jogos oficiais, pedirá dispensa dos particulares, e os srs. Scolari e Madaíl vão exigir a sua presença na fase final do Mundial 2006, onde o mais provavel é vermos Figo como vimos 4 anos antes, na Coreia e no Japão, completamente de rastos a ser um peso morto na equipa e com lugar cativo na mesma, sem existir alguém no banco com inteligência ou coragem para o retirar da equipa caso seja necessário, ou mesmo com a presença de espírito para não o pôr no 11 inicial. Rui Costa também saiu da equipa em 2004 e fui muito útil à selecção, resolvendo jogos quando saiu do banco...Se Figo nunca teve a intenção de deixar a selecção por completo, porque é que anunciou a sua retirada da mesma? Porque não assumiu que iria pedir uma dispensa de alguns jogos ao seleccionador para ver se conseguia decidir o que era melhor para si e para a sua carreira? É agora quando vê que a sua carreira no clube está no fim que tem que se agarrar à selecção?
Com isto tudo não estou a dizer que Figo não foi um jogador excepcional, do melhor que eu já vi, e que não é ainda um bom jogador, obviamente convocável por mérito próprio e podendo ser útil à selecção, jogando de início, vindo do banco ou apenas estando no grupo. O problema aqui são as panelinhas do costume com a Federação (com Madaíl à cabeça), Scolari e esses tachos que têm que existir para os amigos, assim como as represálias para os inimigos (vide: Baía e JVP, o primeiro mais óbvio). Os compadrios, o sistema, os tachos, o Madaíl, a merda do costume....