13 novembro 2006

Entrada no século XXI

Dei por mim há dias atrás a folhear um dos cadernos que os jornais desportivos lançam no início de cada época com o plantel de todas as equipas, todos os detalhes dos jogadores, fotos, etc. Tive a sorte ainda de poder passar os olhos por uma colecção de cromos do campeonato nacional da época de 92/93 com todos os pormenores anteriormente citados. Infelizmente 92/93 foi a época mais longínqua que consegui ter acesso, pois cada época revisitada abria o apetite para a época anterior.

Planteis de equipas clássicas do nosso futebol, juntamente com os seus campos sem as condições mínimas e jogadores únicos fizeram as minhas delícias. Quem não recorda com saudade equipas como o Espinho, Salgueiros, U. Madeira, Famalicão, Farense, Portimonense, Fafe, Leça, Ac.Viseu, entre muitos outros e ainda equipas que estando ainda hoje na Superliga tinham equipas inenarráveis, como o Paços, o Gil Vicente ou o Estrela?

Mas o rude golpe dá-se quando se olha para o então e o agora. Com a entrada no séc. XXI, parece que existiu um movimento de queda dos bigodes no futebol português. Este sim, é o principal problema do futebol português! Dantes, tínhamos bigodes como o de Zé d´Angola, António Borges, Matias, Frasco, Best, Eduardo Luís, Paulinho Cascavel, Spassov, Hassan, Paco Fortes, Marcelo Sofia, Agatão, Manuel Barbosa, Ribeiro, sei lá, a lista é interminável. Ter bigode era um certificado de FPF para se poder jogar futebol. Nem estou a falar das intermináveis barbas de Dinis e Abdelghani que fizeram as delícias por todos os que passaram pelo Mário Duarte. Isso sim, eram barbas! Isso era de homem!

Mas actualmente o que é que se passa? É precisamente o contrário! Verifiquei que quer na Superliga quer na Liga de Honra não há um único jogador com bigode em nenhum clube. Nenhum! E não valem aqueles bigodinhos com pêra arranjadinhos tipo Hélton – mesmo assim não há mais de três por cá. É um bigode à Toni, à Chalana, à Vermelhinho, à Zé Beto! Não há um único bigode no futebol profissional português! Um único! A maior das tradições do nosso futebol esfumou-se. Dr. Hermínio Loureiro, em vez de tentar dinamizar o futebol português através da criação da Taça da Liga ou da profissionalização dos árbitros, tente ser mais dinâmico – ataque os problemas de frente! Exigimos quotas mínimas de bigode nas equipas profissionais! É uma vergonha o que se passa neste país.

Os últimos baluartes do bigode no nosso futebol ainda são alguns treinadores, que sabem que têm que ser não só treinadores de futebol mas também condutores de homens e por isso demonstram bem quem é o líder, quem é que usa o bigode! Heróis dos tempos modernos como Pluto, também conhecido por vias travessas como Manuel Machado, José Romão e o prof. Neca, ainda me dão esperança num futebol melhor, mas serão os últimos resistentes? Desde o corte de bigode de Carlos Queirós, Artur Jorge e mais recentemente de Vítor Manuel que não vejo um panorama tão negro no nosso futebol.

Recordo com saudade as palavras de van Hooijdonk, aquando da sua passagem pelo Benfica, que numa entrevista durante os primeiros meses em que jogou em Portugal referiu que muita gente ainda usava bigode em Portugal, no meio das habituais frases como “gosto muito do vosso bacalhau” ou “o tempo aqui é fantástico”. O bigode, esse sim, o verdadeiro bilhete de identidade do português!