22 setembro 2006

Beto, um homem e o seu sonho


Não entendam este texto como uma história. Entendam-no como uma homenagem. Sentida homenagem. Verdadeira homenagem. Homenagem ao homem que fez tudo para alcançar o seu sonho. E conseguiu-o. Falo de Roberto Luís Gaspar de Deus Severo. Beto no mundo do futebol.

Formado nas escolas do Sporting, Beto rodou nas duas primeiras épocas como sénior no U. Lamas e no então primodivisionário Campomaiorense da família Nabeiro. Foi nessa altura em que Beto foi chamado para participar no Mundial sub20 que decorria em Doha no Qatar em que emparelhava no centro da defesa com José Soares, outro dotado para a bola. As qualidades do sportinguista não ficaram vincadas dentro das 4 linhas, mas esse torneio foi o primeiro passo para o estrelato do atleta. Beto era companheiro de quarto da estrela da companhia Dani, seu companheiro no Sporting, que era intensamente perseguido pelos media da capital - independentemente do seu inegável talento natural foi talvez o jogador português a ser lançado como estrela pela imprensa mais jovem de sempre. Beto beneficiou disso e também começou a ser lançado pela imprensa nacional que via na geração de 2005 uma nova geração de ouro para o futebol português.

Seguiu-se a sua carreira pelo Sporting, onde apesar de ser um jogador tecnicamente bom como defesa nunca foi grande coisa. No entanto, a imprensa ia-o fazendo como grande defesa central e líder da equipa. Depois disso, chegou o momento mais temido de sempre para os adeptos portugueses: a chamada à selecção AA e a imposição da imprensa da sua titularidade. Não é preciso recuar muitos anos em que as convocatórias para a selecção eram feitas pelos jornalistas (ao contrário de agora em que jogador falado pela imprensa não será convocado). Foi o que aconteceu. Felizmente a falta de qualidade comparativamente aos demais centrais da altura (excepção feita à qualificação para o Euro 2000 quando Humberto decidiu usar Paulo Madeira) era evidente e Beto nunca foi titular indiscutível.

Recordo aqui um jogo para a qualificação do Mundial 2002, no Chipre em que Beto enterra fortemente a selecção, sendo o único culpado no golo de Konstantinou além de inúmeros outros lances, e o Record dá-lhe uma das melhores notas entre os jogadores portugueses acusando o seu companheiro de centro da defesa, Jorge Costa, de complacente e culpado no golo – dando-lhe incluisivé a nota 1. Este é um exemplo. Arrisco dizer que em cada jogo mau de Beto o tratamento que lhe era dado pela imprensa era semelhante.

Os seleccionadores bem o tentavam encaixar na equipa, a lateral, a trinco, menos vezes a central. Ao menos estavam bem com a imprensa.

Na sua carreira no Sporting, que durou vários anos, todos os anos era apontado como alvo de cobiça de emblemas estrangeiros de top, Juventus, Real Madrid, Inter, era só escolher. Quem lesse os pasquins ou ouvisse as rádios pensaria que estava perante o melhor central do mundo. Parecia que não havia era dinheiro suficiente para pagar a sua saída do Sporting. Por uma razão ou por outra essa transferência mais que anunciada acabava todos os anos por não acontecer. Os jornais pareciam confusos como era possível o jogador manter-se a jogar em Portugal quando muitos outros jogadores portugueses (todos inferiores a Beto segundo eles) emigravam todos os anos, talvez não para clubes de top mas iam para campeonatos bem mais competitivos.

O jogador era tão bom, tinha tantos fãs, que criou o seu site pessoal na Internet, www.beto22.com, curiosamente já inactivo. Sabe-se lá porquê…

Roberto lia avidamente as notícias da sua saída. Sonhava jogar num desses campeonatos das estrelas do futebol. Um campeonato mediático. Itália, Espanha ou Inglaterra. Nada menos que isso.

Entretanto o Sporting contratou o actual treinador, Paulo Bento, que faz a equipa segundo as suas próprias ideias e não as ideias da imprensa. E deixou de apostar em Beto. Teria as suas razões. O jogador, insatisfeito, decidiu prosseguir a carreira noutro clube, estrangeiro, claro! E aí fez por encontrar esse clube. Houve uma proposta da Turquia, que acabou por não se concretizar, e finalmente rumou a França para o Bordeaux de Ricardo Gomes. Mas apesar de passar meia época em França o ex-lagarto não foi feliz. Nem sempre jogava e a equipa não era de topo. Beto precisava de mais. Dum campeonato ao seu nível. E eis que surge a hipótese de jogar em Espanha! O estrelato! O que Beto merecia! O que merece! O seu sonho!

E é com grande alegria que o nosso Roberto defende agora as cores do Recreativo de Huelva, promovido esta época à Primeira Divisão de Espanha e com contratações destas vai regressar à Segunda Divisão bem rápido.

Beto: a sua vida guiada por um sonho! Um sonho que Beto cumpriu! A realização profissional dum jogador mediano promovido pela comunicação social.

Obrigado pela tua carreira, Beto!

2 Comments:

Blogger Rotura de ligamentos said...

Esqueces-te que o Huelva é um pequeno passo para um certo clube da mesma liga. Ou não fosse Beto, segundo José Eduardo, "um jogador de Real Madrid".

00:38

 
Anonymous Anónimo said...

Infelizmente tenho de concordar plenamente com o que aki foi dito, porque pelo que conheço dele até é uma excelente pessoa.

23:54

 

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