26 março 2006

Jornalismo tendencioso

Apreciação à actuação (boa) de Leo no último jogo do Benfica pelo seu jornal oficial, A Bola:

LÉO (7) O habitual e à atenção de Parreira. Concentração permanente, total acerto defensivo, sem receio dos lances divididos e contagiante apetência para apoiar o ataque. Rápido a pensar e a executar, está no desenho do único golo do jogo e, mercê de inteligente leitura de todas as acções, ajudou a disfarçar as intermitências de Robert, preenchendo com boa técnica de execução e transpiração o corredor esquerdo.

Segundo este jornal, não só é habitual ele sempre jogar bem, como é normal ele ser chamado à selecção, uma vez que joga sempre maravilhosamente bem no Benfica.

Leo é um bom jogador e tem jogado bem. Chegou com 30 anos ao Benfica, internacional A. Agora esta promoção ridícula para um país que como todos levará em princípio dois defesas esquerdos ao Mundial, sendo que Roberto Carlos terá lugar cativo, e ainda tem Athirson, Felipe, Filipe e muitos outros... é inacreditável. Leo até pode ir ao Mundial. E tem mérito. Mas será pelo que joga, nunca pelo clubismo que a maiorias dos jornalistas portugueses ostenta! Imparcialidade, por favor!

23 março 2006

Jorge Fernando Pinheiro de Jesus


No mundo do futebol Jorge Jesus. E é isso que nos interessa. Felgueiras, V.Setúbal, V. Guimarães, Moreirense, U. Leiria, E. Amadora, entre outros são clubes martirizados com a sua passagem pelo comando técnico da equipa de futebol sénior.

Desde os seus tempos durienses de Felgueiras, Jesus cultivou uma pose única entre os treinadores portugueses de estar no banco. Punha-se de cócoras, ao lado do banco, e trajava apenas de negro, contrastando com a sua farta cabeleira branca. Nesse ano conseguiu a proeza de fazer 25 pontos na 1ª volta do campeonato e apenas precisava de mais 9 pontos para assegurar a manutenção na 1ª divisão (e aqui a vitória já valia 3 pontos), mas Jesus conseguiu fazer apenas 8 pontos na volta final na equipa onde jogavam Earl, Clint e Lewis, o trio tobaguenho! O Felgueiras desceu e Jesus com eles.

Passado algum tempo, Jesus tem a hipótese de vir treinar de novo para a Superliga, desta vez no clube da sua terra, o Estrela da Amadora. É nesta altura que eu tenho o horror de ouvir uma entrevista do próprio onde conseguiu falar durante 5 minutos em que conseguiu não conjugar um único verbo, portanto impedindo-me de classificar o seu discurso como verborreia. Aliás, conseguir classificar um discurso de Jesus como verborreia deve ser um objectivo particular na vida do treinador, se bem que até hoje ainda não foi atingido. Vamos continuar a aguardar.

Por essa altura, Jesus foi sempre visto como uma treinador salvador, isto é, nenhum clube no seu perfeito juízo contrataria Jorge Jesus para o comando da equipa no início duma época, pois melhores opções sempre existiriam. No entanto, nos momentos de aflição e quando faltam menos de 10 jornadas de campeonato, geralmente há sempre alguém que clama: “Ai Jesus, ai Jesus!”. E aparece Jorge. Só assim se compreende estas contratações de fim de época. Algumas das vezes ele até se sai bem (mérito dos jogadores) e a direcção convida-o a iniciar a nova época no clube, mas o que geralmente acontece passado alguns meses é isto:

(Jantar de despedida de Jorge Jesus do plantel do V.Setúbal, também com elementos da claque VIII Exército, onde ainda se avista a frondosa barba de Quinito – outro post que fica desde já prometido)

Outros presidentes, mais inteligentes, não deixam Jesus iniciar nova época no clube, mesmo que este os tenha salvo. Outros ainda despedem o treinador (que era aposta pessoal do presidente) antes de completadas 10 jornadas da nova época e para colmatar trazem Jesus para o banco, deixando-o ao leme durante a maior parte da época.

E eis que surge a melhor faceta de Jesus: a gestão do seu sucesso. Ganha 3 jogos seguidos (e como só treina equipas do fundo da tabela esses 9 pontos representam um grande salto na tabela) e é o maior (mesmo). Entrevistas nos jornais e frases bombásticas nas conferências de imprensa animam a populaça que segue a bola semana a semana. Desde antevisões das partidas da sua equipa (na altura E.Amadora) onde o jogo seguinte ia ser "empolgante com um despecho imprevisível, ao jeito de um thriller de Francis Ford CÓPULA", entrevistas ainda esta época ao jornal “A Bola” em que se intitulava como um estudioso do futebol onde dizia frases como “a nível táctico, em Portugal ninguém me ganha” ou conferências de imprensa após vitória no campo do Nacional, com afirmações que Manuel Machado (ver o post Pluto deste blog, um dos primeiros) classificou de “uma imbecilidade”, enfim, uma panóplia fantástica de grandes momentos de mister Jesus. Momentos esses que certamente não se quedarão por aqui. A nós só nos resta dizer: Obrigado!

13 março 2006

O novo Eusébio

Início da década de 90.

O presidente do Sporting na altura, Sousa Cintra, apresenta mais um jogador para um projecto megalómano que era conseguir ser campeão. E aí sim, seria a “Festa Nacional” como o próprio dizia. Jogadores vindos dos quatro cantos do mundo eram contratados pelo clube e promessas aos sócios de vários títulos eram feitas ano após ano. Só posso garantir que durante a presidência de Sousa Cintra o Sporting não conseguiu vencer um único troféu…

Mas adiante! Iniciava-se a época de 1990/91 e Sousa Cintra apresenta mais um reforço para Alvalade: Hamilton Souza, vulgo Careca, nascido no Brasil em 27-09-1968. Tinha portanto 22 anos e em euforia o presidente leonino rotula-o de “Novo Eusébio” e tece-lhe os mais rasgados elogios, colocando a fasquia bem alta.

Primeiros jogos, a expectativa era grande em torno do novo Eusébio. Que tardava em mostrar porquê tamanho cognome. No final dessa época já era mais um flop que nunca mais daria nada. No entanto Careca ainda era jovem e mantém-se no plantel para a época seguinte, quando se lesiona com alguma gravidade. O Sporting não quer mais saber do jogador e liberta-o do contrato no fim dessa época. Acabou-se o mito do novo Eusébio.

O jogador dispensado de Alvalade ingressa no Famalicão entretanto onde sem a pressão imposta por ser um clube grande, ou simplesmente por ter que ver Sousa Cintra todos os dias, consegue recuperar da lesão, evoluir, e mostrar que afinal não era assim tão mau (embora não fosse um novo Eusébio). Careca torna-se numa peça fundamental do Famalicão e começa a despertar a cobiça de alguns clubes. O Sporting não quer ficar para trás e diz que o Famalicão tem que lhes pagar uma indemnização por direitos de formação do jogador (mais uma ideia peregrina do presidente da altura). Essa indemnização foi fixada em 1 milhão de contos.

Aos saber-se dessa intenção do Sporting, os jornalistas precipitam-se para as imediações do Estádio 22 de Junho para interpelarem o presidente do Famalicão sobre essa questão:

Jornalista: O Sporting fixou a indemnização em 1 milhão de contos. Não está preocupado com isto?

Presidente: Eu? Nada. Nada preocupado.

Jornalista: Mas é muito dinheiro….

Presidente: Ouça, se fosse uma dívida de 40 ou 60 mil contos, aí sim, ficava preocupado, agora 1 milhão de contos … Deixo as chaves do clube na Câmara ...

09 março 2006

Totobola 1 X 2

Recordando velhas glórias do futebol português, venho aqui falar do já retirado jogador croata Dragan Punisic, nascido a 1-3-1966 (portanto fez há poucos dias 40 anos, parabéns, pá!), que jogou, entre outros, no Castellón, Farense e no Beira-Mar. Médio ofensivo, o verdadeiro número 10, neste último conjunto dava um toque de classe a uma equipa onde pontificavam jogadores como o robusto central Dinis, o carregador de piano Eusébio ou ainda o velocista das pernas tortas Dino.
Mas a saída do croata de Aveiro é que é uma história rocambolesca. O Beira-Mar não ia bem na tabela (e acabou por descer nessa época) e Punisic foi durante a semana ao café mais perto do Estádio Mário Duarte, como ia muitas vezes, registar o totobola. Acontece que o Beira-Mar jogava em casa nesse domingo contra uma equipa do “seu” campeonato (agora não faço ideia qual, peço perdão… já foi há uns anos). Punisic apostou 2 nesse jogo. Foi o seu erro.
O dono do café achou estranho e dirigiu-se ao Estádio para contar ao presidente o prognóstico do jogador, isto ainda antes do tempo de Mano Nunes. O jogador foi imediatamente suspenso de toda a actividade (o seu nome foi retirado da lista dos convocados para esse jogo) e iniciou-se um processo que culminou com o seu despedimento dias depois.

Felizmente para o mundo do futebol, Punisic assinou pelo Farense para a época seguinte. E o Beira-Mar desceu.

07 março 2006

Cajuda: uma vida, um destino.


O Processo Sumaríssimo inicia, a partir de hoje, uma série de posts que não são mais que uma retrospectiva de todo o trabalho/legado que grandes treinadores que passaram pelo futebol português, uns ainda em actividade, outros em actividade na SportTV, nos deixaram.

Existem vários candidatos, mas acho que ninguém me irá criticar se eu escolher como primeira personalidade a abordar Manuel Cajuda.

Nascido em Olhão, em 27-01-1951, esta referência mítica do futebol nacional abraçou a carreira de treinador há já muito tempo, tendo passado por várias equipas entre as quais Torreense, Sp.Braga, U.Leiria, Belenenses, Beira Mar, Marítimo, Naval e actualmente Zamalek, do Egipto. Um autêntico nómada, sendo algumas destas passagens bastante fugazes até.

Na sua obra, especial relevância para a criação e desenvolvimento da “Teoria do Cobertor”, adoptada por muitos actualmente como verdade absoluta, mas verdadeiramente revolucionária no seu tempo. Em poucas palavras, uma equipa de futebol é como um cobertor curto: quando se tapa a cabeça, destapam-se os pés e quando se tapam os pés, destapa-se a cabeça! Parece simples? Talvez agora, mas só um génio muito à frente do seu tempo teria a coragem e inteligência de ir contra os padrões estabelecidos com coisas como esta. Cajuda é um deles! Mas não se fica por aqui. Frases como "Pôr a carne toda no assador!" tornaram-se banais e não se faz justiça a quem as proferiu pela primeira vez. Ou quando teve a ousadia de dizer que "queria ganhar ao Benfica" e de facto ganhou, disse, em tom de aviso, à comunicação social: "Depois chamam-me lírico..."

Diz-se adepto do futebol de ataque, agradável ao adepto ou do simples espectador, recusa-se a jogar para o resultado pois seria assassinar o futebol. No entanto, a verdade é que Cajuda nunca conseguiu mais do que treinar equipas do meio da tabela que ocasionalmente poderiam espreitar a hipótese de ir para a Taça UEFA. Uma injustiça a uma velha raposa do futebol português. Com um treinador deste gabarito livre, porque é que o presidente do Vitória de Guimarães não optou por ele como treinador no início desta época ou em Dezembro, quando saiu Pacheco (curiosamente Cajuda “já” estava livre de novo)? E logo Cajuda, que sempre se recusou a mover influências para ter trabalho. Que nunca sequer lhe passou pela cabeça oferecer-se a um clube que seja!

Gostei especialmente da pré-época na Naval, quando depois de reunir com o presidente decidiu não ter jogadores emprestados no plantel. Era preferível “ficar 3 ou 4 lugares abaixo no campeonato mas na época seguinte não ser necessário reconstruir uma equipa de base”. Concordo com Cajuda. Mas não concordo com o seu professor de matemática do 6º ano, que provavelmente o passou de ano. Aparentemente Cajuda não sabe contar. Ficar 4 lugares abaixo do que conseguiria com emprestados era ficar abaixo de último (seria uma 19º ou 20º lugar). Ou será que Cajuda seriamente pensava em ficar em 10º com jogadores emprestados e 14º sem eles? Fica a dúvida.

Uma palavra para o seu filho Hugo Cajuda, que jogou no Braga B quando Manuel treinava o Sporting local. Central de marcação impiedoso, creio que chegou a fazer dupla com Ricardo Rocha. Uma lesão grave terminou a sua carreira prematuramente (com menos de 23 anos) mas Manuel deu-lhe a mão, enquanto treinava o Beira Mar, e iniciou-o na arte do treino. Em 1º lugar como observador de adversários. Via jogos, compilava informações, criava dvd´s sobre adversários específicos, era tudo muito profissional e do mais alto nível. Pelo menos até ao despedimento do pai do clube, semanas depois. Hugo Cajuda foi para o desemprego…

Há tantas outras coisas para versar… o discurso que ele tem nas entrevistas pós-jogo, nunca se importou de perder, desde que o espectáculo tenha sido bom. O romantismo com que fala das suas tácticas e dos seus jogadores! É nisto que o futebol português fica mais pobre quando vemos que ele emigrou para o Egipto onde finalmente alguém lhe reconheceu o valor que realmente tem!

Para concluir, mais uma pérola. Uma mensagem enviada para a APAF no início da época 2004/05:

Sr. Presidente,

Permita-me fazer de si o portador da seguinte mensagem para todo o mundo da arbitragem:

Felicidades e boa época de 2004/05 para todosComo sabe, sr. Presidente, eu que por vezes até falo (falava) demais, quero nesta poucas palavras expressar aquilo que desejo que possa ser o meu comportamento futuro na ajuda de um futebol melhor, com a promessa de tudo tentar fazer para também ajudar a arbitrar um futebol por vezes completamente "louco".

Um abraço do Treinador e Amigo

Manuel Cajuda.

Não é só um treinador. É um Amigo. Obrigado Manel!

06 março 2006

Lucílio: mais uma!

No sábado, no Bessa, foram mais dois tiros certeiros de Lucílio na verdade desportiva do campeonato. Com João Pinto, Tiago e Paulo Jorge com 4 amarelos, Lucílio inicia o festival de cartões logo nos primeiros minutos, penalizando faltas banais a meiocampo com cartões mais que exagerados para ambas as equipas. O jogo não teve nada de duro e mesmo assim Lucílio conseguiu ir ao bolso 12 vezes (uma das quais para expulsar Cadú). O setubalense sabia que quantas mais vezes fosse ao bolso (adoptando um critério ridiculamente penalizador em cartões para as duas equipas) mais facilmente conseguiria excluir um ou mais jogadores axadrezados do encontro vital da próxima semana contra o SEU Sporting do coração.

Se a João Pinto Lucílio mostrou amarelo na primeira falta que o jogador fez, junto à linha lateral e no meio campo defensivo bracarense, numa entrada que nem dura foi, a Tiago conseguiu dar-lhe um cartão num lance claramente precedido de falta por um jogador do Braga mesmo nas suas barbas, que só não viu quem não quer ver e não está lá de boa fé. Mas Lucílio não estava contente. Queria mais! Com o festival de cartões exibidos por tudo e por nada durante o jogo, era mais que óbvio que alguém teria que ser expulso mais cedo ou mais tarde. Foi o que aconteceu a Cadú, que falhou a bola e acertou no adversário no início da 2ª parte. Cartão amarelo aqui justo, mas ridículo o 1º. Logo, vermelho injusto e menos um para Alvalade. Mais um, segundo Lucílio.

Depois da expulsão, e numa tentativa de equilibrar as coisas, Lucílio começa a arbitrar ligeiramente a favor do Boavista, para nunca deixar o Braga subjugar a equipa da casa, manter o 0-0 que interessava a Lucílio, transformando faltas em faltas ao contrário, irritando todos os espectadores presentes no estádio, prejudicando as duas equipas.

Mais uma vez, o árbitro mais sobrevalorizado do futebol português, revelou-se um mau árbitro, pouco sério (doloso até), interesseiro e parcial. Mas a culpa não é só dele. É de quem o nomeia para determinados jogos. Mais uma do sistema verde…que está de parabéns!